Proibido para menores

Falando em português claro, o Conniff, na rua Horácio Lane, era um puteiro chique –ou metido a chique? Havia toda a releitura kitsch de ícones romanos e até orientais. Estátuas, bustos, labirintos… Uma miscelânea. E para emoldurar o cenário, o muro do cemitério em frente, com grafites diretamente do umbral. Caiu, junto a outros imóveis, para dar lugar a uma torre de 26 andares.

Fachada da Conniff (Fotos: Leonardo Raposo)

O local, por onde circulavam empresários e jogadores de futebol, guarda história. Por décadas os irmãos Carlos e Luis (nomes fictícios) administraram a casa driblando todo tipo de impropério. Mas dizem que foi após a chegada da mulher do primeiro na administração, que os negócios prosperaram.

Os números impressionam. “Havia cerca de 200 prostitutas, divididas em dois turnos, que batiam cartão”, diz um vizinho do estabelecimento, que prefere não ser identificado. “Em dias bons, o faturamento bruto girava em torno de R$ 100 mil”, afirma, lembrando que a presença de policiais era constante. “Eles pagavam propina de R$ 80 mil em cash”.

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Começou pequeno, com o panorama no setor imobiliário ainda livre de especulações e foi sendo ampliado na medida em que os proprietários garimpavam casinhas ao redor. “Isso foi em 2006, 2007, quando os imóveis na região eram baratos”, diz o vizinho. “Custava entre R$ 200, R$ 300 mil cada casa”.

Com o tempo, surgiram os imbróglios e a busca por soluções. Como a Horácio Lane é passagem entre a Vila Madalena e Pinheiros, os clientes evitavam parar o carro na rua por medo de possível flagra. Vai que a esposa de alguém passe e reconhecesse a placa? Além disso, dificilmente havia vaga. Os sócios decidiram, então, transformar um terreno que haviam adquirido na rua Cardeal Arcoverde em estacionamento.

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Alvo de perseguição durante o fechamento de prostíbulos, na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab, dois enormes blocos de concreto interditaram sua entrada principal. A saída foi improvisar outra entrada na lateral que conduzia à sauna. “Como a cidade é cheia de sauna gay, os fiscais não puderam fazer nada. Mas claro que houve propina”.

Terminada a gestão Kassab, a casa reabriu as portas com uma meta: perder o estigma de puteiro. Para isso, aproveitaram a infraestrutura e passaram a fazer baladas para jovens aos fins de semana. Durante o dia continuava sendo o velho Conniff e à noite, balada. Durou cerca de três meses. Os vizinhos passaram a reclamar da algazarra.

Cansados –e envelhecidos–, os irmãos/sócios decidiram vender todo o terreno para a construtora Evans por R$ 25 milhões. “Eles foram espertos. Perceberam que depois da Copa 2014 o país ia quebrar. Venderam bem”, arrisca.

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Ressoa, pelos cantos da Vila, a festa de despedida do Conniff. Até o velho barbeiro Joaquim Gonçalves, cujo micro-salão fica a poucos metros, foi convidado. “Foi um festão daqueles”, afirma. “Mas não é para meu bico. Fui lá só para comer, beber e dar uma olhadinha”.

Quem passou pela rua no início da demolição do edifício, deparou-se com um objeto indentificável pendurado no galho da árvore logo em frente, na calçada do cemitério. Homenagem ou desaforo?

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Arranhas-Céu

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Especializada em espigões, a Evans, responsável pela construção de torres em torno do metrô Vila Madalena – que recentemente sofreu desmoronamento de terra –, adquiriu terreno de 3.730 metros quadrados para o empreendimento. Vários imóveis foram demolidos. A barbearia de Joaquim e a casa de samba Ó do Borogodó escaparam por pouco. São, no total, três saídas que abrangem as ruas Horácio Lane, Belmiro Braga e Cardeal Arcoverde. A princípio, os apartamentos estavam sendo oferecidos por R$ 1,6 milhão. Com a atual crise, o valor despencou. Há várias unidades à venda.

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